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Perguntas frequentes

O Comitê apoia as manifestações contra a Copa de 2014?

O Comitê Popular da Copa SP apoia todas as iniciativas populares contra a Copa da FIFA, entendendo que não será a única articulação politica entre as diversas formas de resistência aos impactos e violações de direitos humanos do Estado e da FIFA. Seguiremos apoiando as manifestações públicas, populares e à esquerda, ou seja, todas aquelas que questionam as violações de direitos e exigem a garantia de liberdade e justiça social.

Por que o Comitê não criticou a Copa de 2014 desde o início?

Não houve debate político e público sobre a candidatura do Brasil como país-sede do Mundial da FIFA. Desde sua escolha, em 2007, até a execução das obras e investimentos, muita coisa mudou: os gastos e projetos foram bastante diferentes do anunciado. A Copa que poderia ser “popular” virou a “copa dos cartolas”, a “copa dos despejos”.

Assim que as violações aos direitos humanos e sociais da população começaram a ocorrer, com o início dos despejos, passando pela falta de informação, até a aprovação da Lei Geral da Copa sem ouvir a população, movimentos sociais e ativistas perceberam a necessidade de uma articulação para debater e questionar o megaevento. Logo em 2010, a ANCOP (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa) se formou e, em seguida, em fevereiro de 2011, surgiu o Comitê Popular da Copa – São Paulo.
Desde então, os comitês organizam atividades, manifestações, debates e produzem materiais nas doze cidades-sedes, incluindo os principais documentos de violações relacionadas à Copa de 2014: os dossiês “Megaeventos e Violações de Direitos Humanos”, primeira e segunda edição (Clique aqui para acessar).

Para saber mais sobre a atuação do Comitê SP nesses 3 anos, clique aqui.

Além disso, esse argumento é tão válido quanto, por exemplo, reclamar que os protestos pelas Diretas Já não começaram em 1964.

Agora, que a maior parte das obras já está concluída e o dinheiro já gasto, ainda adianta protestar?

É verdade que a maior parte das violações para realizar a “Copa das Copas” já foi cometida, mas ainda existem possibilidades de revertermos o legado deste megaevento. Pois:

1)    As vítimas da Copa de 2014, como os milhares de despejados de suas casas e as pessoas que já caíram na rede de exploração sexual, podem ter seus direitos restaurados desde que o governo adote uma política de reparação às vítimas.
Por exemplo: devemos exigir que aqueles que foram despejados recebam uma nova moradia ao invés do “bolsa-aluguel”, concedido na maior parte dos casos.

2)    Muitas das violações previstas para a Copa do Mundo de 2014 ainda não foram executadas e nós podemos impedi-las.
a.    Nem todos os moradores ameaçados de serem removidos de suas casas, já o foram. Um bom exemplo disso são as comunidades próximas do “Itaquerão” que ainda resistem ao despejo e estão procurando garantir, perante as autoridades, a realocação “chave-a-chave”. Isto é, que caso sejam removidas de suas casas, sejam, de imediato, realocadas para uma nova moradia.

b.    Segundo a Lei Geral da Copa, que cumpre uma série de exigências da FIFA ao país-sede, trabalhadores ambulantes não poderão trabalhar durante a Copa do Mundo nas áreas ao redor de estádios, festivais e outras atividades relacionadas ao megaevento. São as chamadas “áreas de exclusividade da FIFA”, ou simplesmente “zonas de exclusão”. A oportunidade de lucrar com a Copa só é concedida para as grandes empresas parceiras da FIFA, como Coca-Cola e Mc Donald’s. Nossa luta é para que isso possa ser revertido e os milhares de trabalhadores ambulantes tenham os mesmos direitos que estas grandes companhias. Isso ainda é possível: afinal, a Copa ainda não aconteceu.

c.    Ainda não foram aprovadas todas as leis vinculadas à Copa do Mundo de 2014 que ameaçam direitos constitucionais dos brasileiros. O chamado “AI-5 da Copa” (PLS 728/2011) e a lei que tipifica o crime do terrorismo, por exemplo, ainda estão em trâmite. Os tribunais de exceção – para julgar crimes próximos aos estádios, sem direito à defesa, ainda não foram instalados.   São tentativas do Estado de balizar a repressão policial que vemos nas ruas em nosso sistema judiciário. Mas ainda podemos impedí-los. Isso significa que direitos democráticos adquiridos desde o fim da Ditadura Militar, como o de se manifestar livremente, estão sendo ameaçados.

d.    A lei que concede isenção fiscal à FIFA e a suas empresas parceiras, que devem privar os cofres públicos do Brasil de cerca de 1 bilhão de reais, ainda pode ser revogada e está sendo questionada judicialmente.

A “Copa das Copas”, do modo como está, não será jamais a “Copa do Povo”. Mas seus impactos ainda podem ser diminuídos ou revertidos.

Gosto de futebol e torço, desde sempre, pela seleção brasileira. Como ser contrário à Copa de 2014?

O Comitê Popular da Copa não é contra a seleção brasileira e muito menos, contra o futebol. Longe disso, somos também grande entusiastas deste esporte, reconhecida paixão popular brasileira. E é por isso mesmo que acreditamos que todos os amantes do futebol devem questionar a Copa da FIFA de 2014.
Além de todas as violações envolvidas para sua realização, a Copa concretiza uma mudança em curso no futebol que tem contribuído para o seu fim. A transformação dos estádios em “arenas”, dos torcedores em consumidores, dos jogadores em mercadorias, do prazer em dinheiro, dos organizadores em empresários, fazem que a paixão pelo esporte seja trocada por uma operação capitalista que nada tem a ver com o jogar e o torcer. Enquanto organizamos uma Copa da FIFA, campos de várzea em todo o país são fechados para dar lugar a empreendimentos imobiliários.

E a FIFA, e suas tramoias, são a máxima expressão deste futebol-negócio, tão distante daquele que conquistou multidões. A Fifa é uma associação teoricamente sem fins lucrativos, isenta do pagamento de impostos, que ganha cerca de 100 milhões de dólares por ano. Só com a Copa de 2014, levará 5 bilhões de dólares (números oficiais). Não existem estimativas nem declarações dos bens e rendas de seus principais executivos. A FIFA exige estádios mais caros e modernos, o que aumenta o preço dos ingressos e impede muitos de irem ver aos jogos. Tudo isso fez com que Andrew Jennings, um jornalista que pesquisa a entidade, declarasse a FIFA como uma organização mafiosa. Na Suíça, ela já foi condenada por crimes como lavagem de dinheiro e corrupção. E este ano, uma votação popular premiou esta entidade como uma das três piores empresas do mundo.

Para recuperar o futebol como paixão e prática popular, exigimos o fim da elitização dos estádios, do encarecimento dos ingressos, da destruição da cultura torcedora e da transformação do futebol em negócio. Por isso também que organizamos jogos e campeonatos de “futebol rebelde”, como a Copa Rebelde, em dezembro passado.

*Se você tem alguma pergunta para o Comitê Popular da Copa de SP que não foi respondida, pode nos escrever para: comitepopulardacopasp@gmail.com

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