Debate-bola discute a importância da organização popular

debatebola3

Debate-Bola” discute a importância da organização popular

 

“A luta popular não tira férias”, já diz uma velha máxima. Pois foi com essa inspiração que os moradores das comunidades da região da avenida Roberto Marinho (antiga Águas Espraiadas) se reuniram em pleno sábado (28/09) para articular mais uma etapa da resistência contra a tentativa de removê-los de suas casas.

Eles participaram da última edição do “Debate-Bola”, evento organizado pelo Comitê Popular da Copa, que desta vez discutiu a importância da organização popular para a garantia dos direitos sociais. Cerca de 80 pessoas estiveram presentes na quadra do Gotas de Flor, que serviu de local para o debate.

DSCN0704

Algumas das comunidades que vivem no entorno da avenida Roberto Marinho estão ameaçadas de despejo desde que o governo de São Paulo colocou à venda diversas casas da região sem sequer comunicar seus moradores. Isso só foi possível porque a propriedade jurídica das casas, que era do DER (Departamento de Estradas e Rodagem), foi transferida recentemente para o governo. Vazias por muitos anos, as casas passaram a ser ocupadas por famílias ao longo do tempo – algumas já estão ali desde a década de 70. Saiba mais sobre a situação das comunidades aqui: http://www.youtube.com/watch?v=UgFP86WGTCA

No “Debate-Bola”, sentaram à mesa para falar Lia, liderança comunitária da Vila Nova Esperança; Paulo Romero, advogado e pesquisador; e Giva, militante do movimento Terra Livre.

DSCN0691

Quem primeiro falou foi Lia, que relatou a experiência da comunidade Vila Nova Esperança, localizada na zona oeste de São Paulo. Ela contou que a comunidade chegou a ter seus “dias contados”, mas felizmente permanece no mesmo local até hoje. “O CDHU (Companhia de Desenvolvimento de Habitação Urbana) apareceu um dia e nos deram 15 dias para sair. Disseram que se não fosse por bem, sairíamos debaixo de balas de borracha. Mas nós nos unimos e não conseguiram nos tirar”, relatou. Lia lembrou ainda da necessidade da participação de todos durante o processo de luta. “Se você quiser permanecer em sua casa, não pode deixar tudo para as lideranças comunitárias resolver. Precisa estar sempre junto”. E ainda comemorou: “Hoje faz 4 anos que nos deram 15 dias para sair, e ainda estamos lá”.

DSCN0721

Logo em seguida, o advogado Paulo Romero falou da pesquisa que realizou sobre remoções de comunidades promovidas pelo Estado durante grandes obras. Paulo estudou as obras do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) em Fortaleza, do Parque Linear e do Rodoanel Norte, em São Paulo, e da Arena Grêmio e do estacionamento do Tribunal Regional Federal, em Porto Alegre. “Ainda que com algumas particularidades em cada remoção, foi possível verificar a existência de certo padrão que o Estado se utiliza para tirar as famílias de suas casas”, afirmou. Segundo Paulo, o Estado costuma se basear bastante na desunião e na divisão das comunidades para ser mais eficiente nas remoções. “Eles tentam sempre fazer abordagens de forma individual, família a família, desconsiderando qualquer representação coletiva. Também se utilizam bastante da tática da intimidação, como quando classificam os moradores da comunidade de invasores”, alertou.

Por fim, foi a vez de Giva, do movimento Terra Livre, falar. O militante criticou os impactos da Copa do Mundo no Brasil, e disse que os governantes jogam com um “sentimento do povo” para justificar a realização o evento, mesmo que com grandes impactos sociais. “Eles pegam um sentimento que o povo brasileiro tem sobre o futebol para justificar a realização da Copa do Mundo no país. Mas aí dizem que para a realização desse evento algumas pessoas terão que sofrer, que esse é um mal necessário”, afirmou. Giva fez ainda fortes críticas à forma como foram realizados os despejos para as obras do monotrilho também na região da avenida Roberto Marinho. “Faz 4 anos que anunciaram as obras do monotrilho. Se eles estivessem preocupados desde aquela época com o destino das pessoas que foram removidas, já teriam garantido habitação digna. Mas eles nunca estiveram, e deixaram para ver isso na última hora, dando indenizações abaixo do valor de mercado”, criticou.

DSCN0698

 

Deixe um comentário