Copa Moinho Vivo: o pagode é nosso!

O Movimento Moinho Vivo e o Comitê Popular da Copa uniram forças para fazer a abertura de uma Copa de todas e todos e para todas e todos. Traga seu time e chuteira, o jogo será aberto, tipo rachão. Para jogar é só chegar!

Dez meses se passaram desde a derrubada do Muro da Vergonha. Internamente, a comunidade está mais forte, unida e consciente dos seus direitos bem como dos grandes interesses que envolvem a área. Entretanto, seguem estancadas as sucessivas tentativas de diálogo e denúncias junto ao poder público, com intuito de reparar os anos de omissão em relação aos direitos humanos dos moradores da Favela do Moinho e de obter melhorias nas condições de ocupação do espaço da Favela.

Entre julho e setembro, os moradores se reuniram com o próprio Prefeito Fernando Haddad e diversos órgãos da prefeitura: Secretaria de Relações Governamentais, Secretaria de Habitação, Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Sub Prefeitura da Sé na tentativa de criar um grupo de trabalho regular para pensar em conjunto a proposta de construção de um Plano Popular Urbanístico e Cultural da Favela do Moinho, que seria feito pela Associação de Moradores e o Movimento Moinho Vivo, em diálogo com o poder público municipal. Mais urgentemente, pretendiam também negociar a realização de obras emergenciais de melhoria do espaço – para a instalação de luz, água e esgoto na favela.

Menos de um mês depois de iniciarem estes encontros, a prefeitura deixou de comparecer sem avisar, justificar ou propor alternativas ou outros espaços de diálogo.

Ao final de setembro, com a intenção de debater estas dificuldades e pensar soluções para garantir a permanência dos moradores na favela, além da melhoria do espaço, o Movimento Moinho Vivo e coletivos parceiros organizaram então a Jornada de Lutas da Favela do Moinho, que aconteceu entre setembro e outubro de 2013, com manifestações, saraus, intervenções e uma mostra de teatro.

O que a prefeitura alegava até então era que não poderia fazer melhorias no terreno pois poderia sofrer uma ação do Ministério Público por conta da disputa judicial que envolve o terreno onde fica a favela. Com a jornada de lutas já programada e percebendo a dificuldade de diálogo com a prefeitura, entramos em contato com o Ministério Público através da figura do promotor de Habitação e Urbanismo de São Paulo, Maurício Lopes. Dessa maneira, ainda durante a Jornada de Lutas, no dia 11 de outubro, realizamos uma reunião que contou com a presença do promotor, junto com advogados da Sabesp e da Eletropaulo. Todos eles afirmaram durante esta reunião que, de sua parte, não havia nenhum impedimento para realização das obras.

Os moradores e o Movimento Moinho Vivo propuseram então que se iniciassem imediatamente as obras emergenciais de melhoria do espaço – instalação de luz, água e esgoto. Com o objetivo de informar todos os moradores do que havia sido discutido e acordado nesta reunião, decidimos encerrar a Jornada de Lutas da Favela do Moinho com a realização da primeira audiência popular da favela, no dia 19 de outubro, que contou com a presença de representantes da Prefeitura, da Sabesp e da Eletropaulo, além de diversos grupos e coletivos sociais que apoiam nossa luta pela melhoria e permanência no espaço. Na ocasião, todos os representantes do poder público reafirmaram o compromisso de início imediato das obras para garantir a melhoria das condições de vida no Moinho.

Porém, no dia 20 de outubro, foi feita mais uma reunião, desta vez com a CPTM, a Sabesp e a Eletropaulo para discutir um plano de ação para a implementação destas obras. A Sabesp afirmou que tinha todo o planejamento da instalação de saneamento já pronto para a execução, e aguardava apenas um “ofício” ou uma “autorização” da Secretaria de Habitação para iniciar as obras – que não foi emitida até hoje. Durante o mês de novembro, integrantes do Movimento Moinho Vivo convidaram o Secretário de Direitos Humanos do Munícipio de São Paulo, Rogério Sotilli, para conhecer a Favela do Moinho e conhecer a situação precária dos seus moradores, que tem o direto a sua ocupação, garantida por uma tutela antecipada de usucapião, instituida pela Justiça Federal. O Secretário atendeu ao chamado e se reuniu com a Associação de Moradores e outros membros do movimento na favela na semana seguinte, colocando-se à disposição da comunidade, ao propor a retomada do diálogo com o poder público, e oferecendo-se para servir de mediador entre o movimento e a prefeitura.

Em fevereiro de 2014, quatro meses depois, o Secretário de Direitos Humanos deu um retorno à comunidade sobre sua proposta: disse que, após conversa com o prefeito Fernando Haddad, chegara a uma proposta para a retomada de “diálogo”: para que se instalasse luz, água e esgoto na área ocupada pela Favela do Moinho, os moradores deveriam assinar um termo comprometendo-se a deixar o espaço uma vez que os conjuntos habitacionais ficassem prontos.

O Movimento Moinho Vivo e a Associação de Moradores considera que barganhar direitos em troca de garantir a nossa saída do espaço que ocupamos há mais de 25 anos é mais uma amostra do sistemático descaso, munido de entraves burocráticos que desprezam as insistentes tentativas de diálogo e negociação, por parte o poder público.

É no Moinho onde fizemos nossas vidas, onde construímos nossas famílias e nossa comunidade, onde teimosamente insistimos em lutar pelo direito à moradia e à dignidade, no terreno ao qual temos direito a ocupar, encravado no coração da cidade de São Paulo – a nossa luta é também uma luta pelo direito à cidade. Por isso, junt@s com vári@s outr@s guerreir@s, seguiremos firmes e irredutíveis na luta!

Por isso, nos juntamos aos companheiros do Comitê Popular da Copa de São Paulo. Surgido em 2011 como uma articulação de movimentos de moradia à qual, de lá pra cá, se integraram diversos outros movimentos sociais urbanos, coletivos e pessoas indignadas com o processo violento de exclusão e violação de direitos da Copa da Fifa, o Comitê tem no Movimento Moinho Vivo um enorme parceiro.

A Favela do Moinho, atacada constantemente por policiais, vítima de incêndios criminosos nos últimos anos, resiste. É a nossa Palestina, encrustada entre um muro e uma linha de trem, numa zona de exclusão tão bem delimitada quanto às que a Fifa impõe à cidade por conta de sua Copa.

Que discurso sobre um megaevento pode se sustentar quando este tem em seu projeto, oficialmente, zonas de exclusão? A Copa da Fifa não é a Copa que queremos. Há 3 anos perguntamos, Copa pra quem? Hoje, a resposta já está mais do que clara. Pra quem luta, pra quem vive a cidade no seu dia-a-dia segregador e violento, pra quem pega metrô e ônibus lotado, pra quem trabalhou na construção das obras – e morreu nisso -, as portas da Fifa estão muito bem fechadas. Lacradas com o selo das três esferas de governo.

Mas não é por isso que não teremos as nossas copas. Neste 11 de junho, a um dia da abertura da Copa deles, estaremos todos e todas na Favela do Moinho pra abertura de uma outra copa, de todos e todas, para todos e todas, construída por todos e todas.

Assim como na Copa Rebelde, a Copa do Moinho que se inicia hoje marca mais um momento de encontro entre pessoas que foram treinadas para passar reto, não olhar no olho e seguir o ritmo de trabalho assassino da cidade, escancarado nas obras da Copa da Fifa.

Convidamos quem luta, quem ficou de fora da Copa deles, quem curte jogar bola e botar a mão na massa pra estar conosco. Na programação: partidas de futebol de várzea, assembléia popular, microfone aberto, projeções, Sarau Moinho Vive e apresentação dos rappers Ca.Ge.Be e Pânico Brutal. Moinho Vivo resiste! O futebol – e o pagode – são nossos!

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